Vovô e o Rock
Meu avô era um senhor baixinho, não falava palavrão na frente da família e fazia questão de se sentar do lado contrário da minha orelha com brinco.
O vovô dizia que já estava velho demais para ver seu neto mais novo usando brinquinho.
Pois foi graças a este mesmo senhor que não gostava do meu brinco que valorizei ainda mais minhas orelhas.
Comecei a ouvir rock pesado por causa dele.
Porque, de tempos em tempos, quando o vovô ia ao Rio visitar a família, trazia junto com ele discos de rock de presente.
Black Sabath, Alice Cooper, ZZ Top, Yes, Genesis, BTO, Emerson, Lake and Palmer, Deep Purple, ouvia tudo o que parava nas minhas mãos.
Cada disco era uma raridade reservada apenas aos iniciados.
E era assim que eu me sentia, um membro privilegiado da ordem dos roqueiros anônimos.
Naquela época, final dos anos 70, era quase impossível de conseguir discos importados.
Mas o vovô trazia em seu baú de viagem.
Eu passava horas em casa sozinho ouvindo incessantemente cada faixa.
Estes discos acabaram se transformando na trilha sonora da minha pré-adolescência.
E com certeza construíram meu gosto musical que proíbe axé e sertanejo, com raríssimas exceções.
Só muito tempo depois que vim a entender que a gentileza do vovô não era um incentivo ao neto mais novo para entrar no mundo do rock pesado.
Vovô era dono de muitas rádios em São Paulo. E em nenhuma tocava rock.
O que ele fazia com os discos?
Dava pra mim.
André Pedroso é Diretor de Criação Publicis Red Lion
Excelente história André! Feliz 14!